quinta-feira, 2 de julho de 2009

Enter Mark Sandman

- Mark Sandman morreu!
- O quê?
- Mark Sandman morreu, porra!

Foi mais ou menos assim que há dez anos atrás o camarada Lorenzo anunciava, via fone, a morte de Mark Sandman, aos 46 anos - embora o obituário do New York Times informe que ele morreu com 47 anos. Pouco importa, o líder da banda Morphine havia falecido da maneira mais decente para se morrer: no palco. O réquiem foi em Palestrina, Itália, e a causa foi um infarto fulminante. É óbvio que a notícia teve um impacto imediato em meia dúzia de pessoas, maior ainda em Lorenzo que ficou por umas três horas parados no Bar da Sônia, matutando como um bom jeca. E por quê? Porque Morphine foi cool como uma banda jamais foi. E para nós, moleques do interior, ruins de bola e de mulher, ser cool ou tentar ser cool (veja bem, a palavra em questão não quer dizer muita coisa) era a única saída que nos restava. Parecer tudo isso beirava o pedantismo, olhando agora de uma maneira distante, sem qualquer olhar romântico. E a música do Morphine nos fazia realmente sentir descolados. Aquela mistura de jazz e rock, (rock sem guitarras, rapaz!) calcado em uma poesia beat de segunda batia no peito e dava a sensação de que os sussurros de Mark Sandman (o rapaz parecia sussurrar até quando mandava pauladas como Thursday, do álbum Cure for Pain) falavam diretamente a nós em uma mesa de um bar esfumaçado. Idéia essa, clichê de qualquer aspirante a maldito, seja escritor, seja peão. E nós éramos isso mesmo, aspirantes.

Mark Sandman poderia ser o cara mais legal bacana do mundo, como aparentava seu jeito despojado e sua música calculadamente despretensiosa. Poderia sentar no mesmo bar em que discutíamos idéias vazias ao seu som e rir de nossas piadas. Ou poderia ser o cara mais chato do mundo, passando horas a divagar sobre be-bop, acid jazz, Kerouac e Ginsberg, com um conhecimento de causa que enojaria. O fato é que nunca saberemos nem deveremos saber. A graça do pop reside nisso: divagar sobre coisas que estão distantes e que nos deixam afetar diretamente que faz tudo mais parece insignificante.

Não vou falar aqui sobre o que foi a música do Morphine e qual a herança dela. Eles não tiveram herança, apenas alguns bastardos por aí, vide National Anthem, do Radiohead que propositalmente ou não soa tão Morphine quanto é possível. Mas se quiser aproveitar seus filhos legítimos, basta caçar sua discografia na Internet. Fácil, não?



Nenhum comentário: