domingo, 5 de julho de 2009

Avisos Oníricos

30/06/2009

Sonhos

Argh! Que sonhos inquietantes tive esta noite.

Eu também tive um sonho muito loco.

Verdade? Conta o seu então.

Eu estava com algo no meu dedo indicador, bem na digital. Ali sabe?

Sim, e aí?

Bom aí que estava me incomodando, e doía um pouco, uma coisa estranha. Quando olhei melhor era um carrapato!
Peguei o desgraçado e arranquei-o dali, parecia uma jabuticaba. Maldito parasita!

Hahaha.

Depois fiquei encanado de ter pegado aquela febre do carrapato, acordei e demorei a dormir de novo.

Porra isso pode significar que tem algum parasita tentando viver as suas custas!

É. Realmente pode ser, e o teu sonho?

O meu? Bom, eu estou lendo um livro: como ter sonhos lúcidos em 30 dias. Isso na realidade, não no sonho. Uma das dicas é: você se concentrar em um tema, antes de dormir e resumir esse tema em uma frase.
Eu fiz o processo e a frase ficou assim: quero ter um sonho com sexo! Depois tem que repetir várias vezes a frase. Tive quatro sonhos com sexo!

Rapaz, você é bem louco, isso é eu chamo de viver perigosamente!

Por quê? O processo é totalmente seguro cara! Você controla teus sonhos, neles você pode tudo!

Então, por isso mesmo. Olha a frase que você usou: quero ter um sonho com sexo! Sabendo desse teu lado enrustido, no mínimo você deve ter ido parar em algum tipo de orgia sadomazogayanimalmovéisfilia!

Vai me deixar contar o sonho ou não?

Eu acertei? Vai ter algum elemento fresco no sonho?

Claro que não! Eu sou muito macho cara!

Continue sonhando!

Então, como estava te falando tive quatro sonhos seguidos com sexo, o primeiro é o mais enigmático e interessante. Eu estava, no campo, na roça e tinha uma dessas mercearias que vende de tudo, um desses botecos. Quando entro quem era a atendente? Duvido que você adivinhe!

Era a terapeuta do Nelson, aquela que fez um exame de próstata nele mesmo ele estado de calça jeans!

Cara, você tem problemas. Não, não era a terapeuta que deu uma dedada no Nelson, era a Lívia.

A Lívia? Começa a ficar interessante esse sonho.

Aí ela perguntava o que eu queria. Eu queria um trago, mas tinha somente coisas de criança: balas, chicletes, sorvetes e salgadinhos, refrigerantes, etc.

Tinha fanta uva?

Sei lá se tinha fanta uva, eu odeio fanta uva!

Eu gosto de fanta uva. Tudo bem, prossiga.

Chego no balcão e peço um picolé. Bom, ela pega o picolé, abre e dá uma chupada nele, e me entrega. Nossa fiquei que nem cachorro no cio!

Não sabia que cachorro tinha cio, cara.

Ah, o que importa é que você entendeu, então levei-a pros fundos da mercearia e comecei a jogar uma idéia nela. Ela resistia e tal, falando que tinha que ser profissional, estava no trabalho, então aconteceu! Em um momento de descuido, tasquei a língua na boca dela enquanto esfregava ela na parede no canto da sala.

Mas teve todo esse trabalho pra pegar a Lívia em um sonho que você podia tudo?

É... B em. Você sabe...
Hahaha não cara, ela queria, mas estava se fazendo de difícil.

Estava fazendo doce, entendi.

É.

E aí?

E aí que, depois disso ela me mandou embora, que a família dela estava toda lá e essas coisas.

Mas rolou um sexo nervoso?

No caminho lembrando como a foda tinha sido gostosa resolvi voltar e dar mais umazinha.
Comi. Porra! Claro que rolou um sexo nervoso. Você esta me irritando! Puta que pariu!
Bom, onde eu estava?

Voltando para a mercearia.

Sim, eu voltei querendo comer de novo, nessa parte o sonho fica estranho!
Acredito que a partir daqui o sonho foi meio que influenciado por um monte de poesias do Augusto dos Anjos, e dos pornôs que assisti.
Eu chego na mercearia, nesse momento a raiva me sobe a cabeça, o mais louco é que eu não sinto somente ela, tudo fica misturado, desprezo, indiferença, inveja, sim fico na porta olhando toda família dela, agora eram camponeses selvagens, com tochas e armas afiadas, umas 20 pessoas me esperavam. E o mais bizarro era um bebê sendo carregado em um cesto, que emanava um monte de luz, e parecia ser o menino Jesus.
Só sei que em um arroubo de fúria contra toda essa gente fui matando todos com as próprias armas deles e requintes de crueldade, todo mundo foi ficando assustado, e já começavam a perceber a grande burrada em que eles estavam se metendo, sozinho já tinha matado uns cinco, e continuava trucidando os camponeses selvagens.

Matou a Virgem Maria usando o Menino Jesus como arma? Isso sim seria bizarro.

Até deficiente eu matei. O menino Jesus é a parte mais foda, parei quando chegou a vez dele, e ao invés de matar, dei uma arma na mão da criança e ordenei que ele matasse a outra criança que estava do lado.
Depois disso não lembro mais o que aconteceu nesse sonho. Parece que mudou pra outro cenário, não sei o que ele fez com a arma.

E os outros? Você tinha falado que eram quatro.

São desinteressantes perto deste. Sexo simples e casual como nos filmes pornôs. Mas o primeiro me deixou impressionado, uma combinação do meu dia: sexo, poesia e violência.

Depois desse sonho, meu carrapato onírico não é mais tão interessante!

Sonhos escrevem certo por linhas tortas, é nosso subconsciente tentando nos avisar algo.

Um aviso para que você tente pegar a Lívia?

Seria mais como: Se você comer a Lívia essa mulher vai transformar sua vida num pequeno inferno!

Sim! E nem o menino Jesus irá te salvar.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Enter Mark Sandman

- Mark Sandman morreu!
- O quê?
- Mark Sandman morreu, porra!

Foi mais ou menos assim que há dez anos atrás o camarada Lorenzo anunciava, via fone, a morte de Mark Sandman, aos 46 anos - embora o obituário do New York Times informe que ele morreu com 47 anos. Pouco importa, o líder da banda Morphine havia falecido da maneira mais decente para se morrer: no palco. O réquiem foi em Palestrina, Itália, e a causa foi um infarto fulminante. É óbvio que a notícia teve um impacto imediato em meia dúzia de pessoas, maior ainda em Lorenzo que ficou por umas três horas parados no Bar da Sônia, matutando como um bom jeca. E por quê? Porque Morphine foi cool como uma banda jamais foi. E para nós, moleques do interior, ruins de bola e de mulher, ser cool ou tentar ser cool (veja bem, a palavra em questão não quer dizer muita coisa) era a única saída que nos restava. Parecer tudo isso beirava o pedantismo, olhando agora de uma maneira distante, sem qualquer olhar romântico. E a música do Morphine nos fazia realmente sentir descolados. Aquela mistura de jazz e rock, (rock sem guitarras, rapaz!) calcado em uma poesia beat de segunda batia no peito e dava a sensação de que os sussurros de Mark Sandman (o rapaz parecia sussurrar até quando mandava pauladas como Thursday, do álbum Cure for Pain) falavam diretamente a nós em uma mesa de um bar esfumaçado. Idéia essa, clichê de qualquer aspirante a maldito, seja escritor, seja peão. E nós éramos isso mesmo, aspirantes.

Mark Sandman poderia ser o cara mais legal bacana do mundo, como aparentava seu jeito despojado e sua música calculadamente despretensiosa. Poderia sentar no mesmo bar em que discutíamos idéias vazias ao seu som e rir de nossas piadas. Ou poderia ser o cara mais chato do mundo, passando horas a divagar sobre be-bop, acid jazz, Kerouac e Ginsberg, com um conhecimento de causa que enojaria. O fato é que nunca saberemos nem deveremos saber. A graça do pop reside nisso: divagar sobre coisas que estão distantes e que nos deixam afetar diretamente que faz tudo mais parece insignificante.

Não vou falar aqui sobre o que foi a música do Morphine e qual a herança dela. Eles não tiveram herança, apenas alguns bastardos por aí, vide National Anthem, do Radiohead que propositalmente ou não soa tão Morphine quanto é possível. Mas se quiser aproveitar seus filhos legítimos, basta caçar sua discografia na Internet. Fácil, não?