sábado, 22 de agosto de 2009

Missiva

17/08/2009

Missiva

-Recebi a encomenda, está querendo que eu vá preso? Não me mande correspondências sem falar comigo antes!
-Por quê? O que se passa?
-As pessoas não entendem nomes estranhos e mensagens cifradas em envelopes. Minha mãe teve problemas com o carteiro.
-Como toda essa gente foi envolvida, se a correspondência que enviei era somente para você?
-De agora em diante enderece diretamente a minha pessoa, gracinhas só dentro do envelope. Por favor!
-Podemos processar os Correios por discriminação, violação de correspondência?
-Penso que não.
-Ninguém mais tem senso de humor nos dias de hoje!
-Acho que não. Além disso, o funcionário em questão era paranóico.
-Mandarei uma mensagem especificamente para ele!
-Aparentemente resistir é inútil, soou como seqüestro.
-“Senhor Carteiro sei quem você é, e onde você mora.”.
-O fraco perecerá também não caiu bem. Acho que ele era evangélico. Mas é sério, brincadeiras só dentro do envelope agora. Por favor!
-Ele me paga, minha vingança será terrível.
-Mudando de assunto. Qual o cardápio de hoje meu caro glutão?
-Arroz, feijão, frango atropelado e carne de panela. O frango com alecrim, salada de repolho e guaraná.
-Nossa você matou dois animais para ter uma refeição?
-Três, no feijão tinha torresmo.
-Um caçador impiedoso!
-Sim, faz parte da minha personalidade. Estou planejando uma retaliação contra o carteiro, dor excruciante e terror sem fim. Isso vai envolver uma série de cartões postais em que destruirei a alma dele.
-Desde que não sejam endereçados a mim, sem problema (suspiro).
-O que esse ser infeliz alegou? Havia algum erro de endereçamento? Não paguei a postagem? Se eu enviasse: “Senhor Carteiro, obrigado por entregar essa carta. Tenha um bom dia.” ou “Se caminhar fizesse bem, o carteiro seria IMORTAL”, penso que ele poderia se sentir ameaçado, ofendido ou lisonjeado. Haverá um dia que a automatização dos Correios será total! Aí eu quero ver.
-Fazer o que, se eu tivesse recebido... Mas como foi a progenitora. No meu entender eu deveria poder escrever o que quisesse no envelope, mas cidade pequena, matutos desconfiados.
-Eu coloquei remetente, e também destinatário. Farei uma queixa formal aos correios alegando o direito inalienável a se ter apelidos no Brasil.
-Vai comprar uma briga contra o sistema?
-Em determinada época os Correios gozavam da reputação de "estatal mais confiável do Brasil ao lado dos bombeiros”. Hoje os bombeiros andam posando pra calendários de sunga...
-É o fim dos tempos meu amigo.
-Sim! O que mais falta eles controlarem? Logo irão questionar o envio de formas vivas pelo correio!
-Mas hoje já não se pode enviar nada vivo pelo correio!
-Não? Maldição! Praticamente abortou minha próxima correspondência, em respeito a sua progenitora e ao fato de poder aparecer o Esquadrão Anti-Bombas e o Controle de Animais, não mais enviarei.
-Agradeço a compreensão, mas não pode enviar futuras correspondências aos meus cuidados? Devo pagar pela falta de humor e cultura dos Correios?
-O problema foi somente o apelido?
-Não. Esse foi o problema menor, o maior foi: “O fraco perecerá”. Que tal tentar mandar no meu nome e você pode usar o seu. Clássico, formal e prático.
-Na próxima eu iria enviar: “Não entre em pânico” e “Amor evite se possível”. Estou deveras triste por esse fator não previsto.
-Hoje um jovem mancebo se suicidou aqui, tomou veneno, por causa de mulher.
-Foi é? Na cidade? Leu Wherter?
-Não, não, duvido, é o amor, a paixão e a burrice, não necessariamente nessa ordem.
-Nossa ele tomou o atalho? Ainda se morre por ingestão de veneno?
-Sim, aqui há venenos em garrafões de 5 litros
-Se tivesse se enforcado num ventilador de teto ele seria lembrado para sempre por ela, mas veneno? Chumbinho? Daqueles que matam e secam os ratos? Mata e seca gente?
-Não, glifosato ou organosfosforados.
-E serve para matar o que?
-São indicados para insetos e plantas, mas se esta sendo usado como alivio de amor não correspondido será que não funcionaria contra carteiros?
-Talvez, mas penso que você deva abrir mão da sua vingança, se submeter a um poder maior.
-Poder maior? Qual poder poderia ser maior do que o exercício da liberdade?
-Minha mãe.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Bolinhos: Farinha, Amor, Olhos

20/08/2009

Bolinhos

- Hoje foi ontem; foi um bom dia. Hoje é hoje e será um bom dia.
- Talvez. Que se passa?
- Um vídeo que vi tinha essa frase, também tinha uma receita de bolinhos.
- É? E parecia ser boa?
- Na verdade, a moça não conseguiu seguir a receita. Mas aí ela colocou um rato no microondas e 4 segundos depois ela tinha 4 bolinhos!
- Sugiro a você não tentar isso em casa.
- Os bolinhos pareciam ótimos!
- Como eu disse, pode ser perigoso. Tem coisas que Deus não quer que descubramos, você sabe. Sobre o que era o vídeo?
- Opostos: felicidade e tristeza, maldade e comédia, vingança e generosidade.
- Maldade e comédia não são opostos!
- Não?
- Não. Toda vez que algo é engraçado, algo de mal aconteceu, ou vai acontecer, não imagino o humor sem isso.
- Particularmente acho que a felicidade é uma isca para atrair os incautos para algo terrível.
- Isso validaria minha idéia não?
- Complementaria. Veja é como o aroma de néctar que as plantas carnívoras usam para dar cabo de suas vitimas.
- Uma isca? Como o amor?
-Definitivamente, o amor é uma isca para um mal maior. É como investir 100.000 numa poupança que rende juros altos por mês, só que negativos.
- E quanto à vingança e generosidade?
- No fundo as duas são formas de retribuição, poder.
- Pensando assim, felicidade e tristeza são formas do quê?